A casa dos fundos.

Página 116. 

- Sophie, não precisa mais..
- Não precisa mais o que?
- Bom, eu já sei de tudo, Richard me contou tudo e realmente me surpreendi.. Nunca esperava isso de você.
- Como assim? Não estou entendendo..
- Vai lá! Seja feliz com o grande amor de sua vida! E por favor, nunca mais me use para nada!
- Usar? Yan! Eu juro, não sei do que você está falando.. Me explica.. Deixa eu te explicar! Richard deve ter inventado tudo isso!
- Inventado? E o que ele ganharia com isso? Sendo que tudo que ele deixa claro é que não quer nada com você?!
- Eu também não sei.. Mas acredite em mim, você além de tudo é meu melhor amigo, jamais mentiria para você.
- Sophie, eu ainda sou seu amigo. E não se preocupe apesar de tudo isso, ainda acho você uma pessoa maravilhosa, minha coisinha!

E me deu um beijo na testa, saiu sorrateiro, e esse é um enigma que permanece em minha mente até hoje.. O que será que Richard falou e porque o fez? Eu não podia ser tatuagem na vida dele, mas ele não deixava eu tentar viver a minha? Ao investigar e interrogá-lo, a única informação que consegui foi a de que ele tinha ciúmes de mim. Pois é, ele não me queria, mas também não deixava alguém me querer.. Que nó lá dentro! A pior parte – porque sempre tem que ter – Era que, bom.. A esperança ascende a chama da obsessão, e se for pra representar em números, o 1% que havia enfraquecido, voltou como se fosse 100%.
Mas, todos estes fatos interruptos, não mudaram de verdade o concreto. A rotina permaneceu a mesma, com os mesmos carinhos, mesmas indiferenças.. E foi em uma das vezes, que a intensidade causou pânico.
Após o mesmo toque de pele – talvez o melhor deles – e algumas carícias trocadas, a hora de ir embora foi - e sempre era - crucial.
A força, energia, ou sei lá que nome eu poderia dar, que me controlava, me impedia de dar qualquer passo em direção ao adeus. E ele, já havia alcançado seu objetivo comigo naquela noite, portanto, Sophie já era descartável.
Começamos a discutir, em um tom de voz calmo, porém com palavras cruéis.
Foi quando perguntei..

- Richard, me diz.. O que tenho que fazer pra você voltar pra mim? Quais são as chances de isso acontecer um dia? Sabe, você diz que não quer mais nada comigo, mas olha, estou aqui.

Riso sarcástico e maléfico.

- Me poupe Sophie! Você quer ouvir a verdade?
- Talvez.
- Nunca! Já tive tudo que eu poderia querer de você, já perdeu a graça, já experimentei tudo, não teria sentido eu voltar com você!

Suas palavras apertarão o botão da loucura, mas dessa vez não gritei, não esperneei e nem tentei me matar, porque não tive forças para isso. Imóvel como uma estátua, as lágrimas desceram.
Talvez seu "anti-drama", foi acionado com o nível mais alto de falta de paciência, e mesmo sem fazer nada, para ele foi uma ofensa!
Sua voz para mim estava longe, tudo que minha mente escutava era “NUNCA..” “EU JÁ TIVE TUDO QUE EU PODERIA QUERER DE VOCÊ”..
Por um momento, senti que eu estava apenas esperando o caminhão de lixo passar, pra me pegar e me levar pro depósito, porque eu não prestava para nada.
Mas algo me acordou do meu transe psíquico .. Uma bofetada no rosto! Forte o suficiente para parecer uma cena completamente ensaiada de novela mexicana.. E com isso, consegui finalmente entender seus berros..

- Vai embora, sua ótaria! Não adianta fazer drama pra cima de mim.. Vai, Vai, Vai!

A terrível, angustiante, agoniante, e horripilante dor emocional e agora física, foi confundida com o mal estar, e uma fraqueza muito grande me dominou. Me senti tonta e apenas consegui dizer..

- Richard..
- NÃAAAAAAO! DESSA VEZ NÃO!

Senti um lapso forte de dentro para fora de mim, tentei segurar em Richard para não cair, porque de repente não sentia mais minhas pernas, mas ao tocar em sua pele, ele me jogou no chão, e chutou minha barriga em sua legítima defesa, com medo de eu tentar.. Tentar o que? Beijá-lo? Abraçá-lo? Que terrível!
Eu já estava tão branca quanto um leite.. Comecei a chorar descontroladamente! Foi tão desesperador, estava me afogando com o ar!
Uma intensa opressão no meu pulmão e eu não tinha vitalidade suficiente para tentar lutar! Em meio aos gestos, escuridões vieram em minhas vistas e uma aguda dor apontou em meu coração.. Forte, como um facão de açougueiro dilacerando a pele de meu órgão principal.. Ele batia rápido demais, e em cada batida me vinha a sensação de pregos sendo cravados em mim..

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