A casa dos fundos

Página 118.

A partir de então, nos falávamos pouco, e a cada dia esse diálogo ia diminuindo, o que me afligia e o desalento de minha alma ansiava concertar aquela situação.
No impulso, inventei uma mentira de última hora, - aquelas que sempre saem mal contadas - para minha irmã, enquanto ela não estava em casa, e fui até lá. Até a moradia do meu amado, até a moradia dos fundos, onde eu passava os melhores e piores momentos..
O chamei baixinho, a porta se abriu, e lá estava eu á sua frente, com um sorriso meio acanhado, esperando arduamente qualquer palavra amiga! E ele.. Bom, sua reação define como ele estava..

- O que você quer aqui sua vagabunda?
- Richard.. Me respeita! Vim aqui te ver.. Quero me conciliar com você. Lembra.. Amigos? Vamos tentar!
- Você cala sua boca que eu não estou afim nem de olhar para sua cara!
- Richard, calma.. Porque toda essa alteração? Eu só quero conversar, fazer as pases!
- As pases? É a última coisa que eu quero fazer com você!

Eu em cólera não meço meus atos. Em uma brecha dada, entrei em sua casa, e quando ele deu conta, até a porta eu já havia fechado. Tentei usar a máscara de neutralização, sentei em sua cama..

- Vem, Rich?  Vamos conversar!

Acho que é obvio dizer que minha pele sentiu a força de seus socos e chutes, novamente. E que pra piorar toda situação, minha irmã me achou lá.. E então eu estava destruída interiormente, cheia de hematomas fisicamente, e ouvindo gritos perturbadores de uma irmã mais velha enfurecida. A única coisa que me lembro nitidamente foram as últimas palavras de Richard naquela noite, aos berros e lágrimas..

- VAAAI! LEVA ESSA LOUCA DAQUI! POR FAVOR, PEDE PRA ELA ME DEIXAR EM PAZ!

Presa e morta racionalmente, era assim que eu estava dali por diante.
Não tive coragem de procurá-lo de novo, faltava-me garra até para respirar. O dissabor de viver estava no auge e a vergonha de me olhar no espelho também.
Foi quase uma semana vegetando, para eu receber uma mensagem no Messenger no modo Offline de uma sexta-feira..


Richard diz: Oi. Quer vir aqui? Preciso falar com você!

Ele me procurou! Preciso dizer que minutos depois eu estava lá?

Assim que cheguei, o abracei de um jeitinho gostoso, que me deu sensação de cicatrização das feridas que tanto me incomodavam!

- O que você quer falar comigo?

Imaginei que ele iria pedir desculpas e voltar a ser meu bem. Mas, ele era pilantra demais para agir sem interesse próprio, e eu não estava ali como pessoa de afetividade, mas, mais uma vez, como objeto de uso.

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