A casa dos fundos

Página 117.
 
Tive dificuldade em me mexer.. Cada movimento era um passe livre sob aquela sensação de “é o fim”. Comecei a me tremer por completo.. Algo próximo a aparência de uma convulsão, e só assim, já assim, que a “ficha” de Richard caiu. E naquele instante, vi pela primeira vez em seu olhar a necessidade de algo relacionado a mim, a necessidade de melhora, um olhar gritante e desesperador, implorando ‘calado’ por qualquer ajuda que fosse possível naquele momento.
Senti uma energia que me dominou tão forte e inesperada como um raio no ocidente, e então, tudo escureceu.


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E agora estava eu tentando abrir os olhos,com dor em cada movimento que minha pálpebra fazia, e já não me encontrava mais no chão. Os olhos de Richard estavam fechados, com o aspecto de inchados, assim como os meus ficam por ele.
Rich me abraçava e me balançava como se eu fosse um bebê. Tentei me mover, mas foi em vão, porém meu esforço foi evidente e barulhento o suficiente para ele abrir as janelas de sua alma e voltá-las instantaneamente para mim. Foi possível sentir certo alívio no respirar de seus pulmões.


- Sophie, você está bem?
- Não sei ao certo.. Tudo está doendo muito! E eu.. Eu estou com muito medo.
- Calma! Eu estou aqui amor.. Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

E ele não me soltou enquanto minha dor aguda não cessasse. O sol já ia nascer quando isso aconteceu, e como se eu fosse uma boneca de porcelana, fui levada até em casa.
Eu não sabia direito o que havia acontecido, mas era algo grave o suficiente para estar sendo tratada daquele jeito.. Tão angelical.

Depois deste acontecimento, Richard pediu para eu ir fazer alguns exames.. E bom, sua preocupação foi espetacular para mim, pelo menos até antes de sua eminente explicação.

- Richard, você se preocupa comigo de verdade? Porque, Sei lá..  Fiquei tão feliz! Me senti tão protegida nos seus braços e senti que aquele era seu objetivo no momento.. Proteger-me.

- Sophie, aquele dia eu só fiquei com medo de você morrer no chão da minha casa! Aí iria sobrar pra mim! Sou muito novo pra ser preso ou algo do tipo!

E naquele mesmo instante, de repente veio um furacão do norte do país e devastou toda minha casa, espedaçando-a, fazendo com que todo concreto estraçalhado me esmagasse no chão, e eu me encontrava então, tentando respirar em meio ao pó que me asfixiava tampando minhas narinas – Essa foi a reação súbita de sentimento naquele momento. Claro que, minha situação não se comparava nem de longe com a das pessoas que passaram por um furacão. Mas, vocês sabem o quanto o coração de uma apaixonada obsessiva é dramático.

Sem palavras ou trocos, desliguei-me ‘teoricamente’ dele pelo restante daquele dia.
Com um entusiasmo tolo de uma vingança pela dor me causada no dia anterior, liguei para um cardiologista de dedos cruzados para que eu tivesse algum tipo de doença, que fosse grave o suficiente para ele se sentir culpado o resto da vida. Meus sentidos lógicos já haviam parado de funcionar, perceptivelmente.
Vaga para consulta.. Só para o dia 20 de dezembro, e bom estávamos em novembro ainda.. Muita coisa poderia acontecer até lá, e se toda essa adrenalina continuasse talvez até meu tão “desejado” óbito.

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